quarta-feira, 27 de julho de 2011

Do Blog de Erich Beting


Pelé foi alçado ao cargo de garoto-propaganda da Copa do Mundo de 2014. O nome pomposo é embaixador, mas na prática o “Rei do Futebol” será uma espécie de promotor do evento aqui no Brasil.
A decisão, pelo que noticiam todos os meios, tem como objetivo dar mais a cara de que a Copa do Mundo é do Brasil. O ex-jogador representará o país em eventos, gravará campanhas publicitárias para serem veiculadas em rede nacional e participará de reuniões sobre a competição.
Mais uma vez o país tropeça na estratégia de comunicação do evento.
Em meio a todas as polêmicas sobre uso de dinheiro público na Copa do Mundo, às exigências e extravagâncias da Fifa em relação ao torneio, aos escândalos de corrupção da entidade máxima do futebol e às declarações soberbas de Ricardo Teixeira, Pelé surge como o bombeiro da competição.
Mas será que Pelé é, de fato, o cara para salvar a imagem da Copa no Brasil?
Para o exterior, sem dúvida, o ex-jogador desempenha uma brilhante função, tanto que até no convencimento de que o Rio de Janeiro deveria ser sede das Olimpíadas Pelé desempenhou brilhante função.
Para o mercado brasileiro, porém, Pelé pode não ser o garoto-propaganda ideal.
Sua imagem não é intocável. Já há muitos anos exercendo a função publicitária (e de maneira nem um pouco criteriosa), a figura do Rei do Futebol está longe de ser uma forma de convencimento para o consumo e de certeza de credibilidade para as pessoas.
Nos últimos anos, a imagem do Brasil mudou substancialmente. O maior mérito em termos de marketing foi a transformação do país em “do futuro” para o “do presente”. O resgate do orgulho de ser brasileiro, de “não desistir nunca”, de ser possível ganhar o mundo a partir do Brasil marcaram, e muito, as transformações dos últimos anos.
A realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos nos próximos anos foram uma espécie de confirmação desse novostatus do Brasil perante o mundo.
Por isso mesmo, Pelé não combina com essa cara. Ainda mais quando se pretende fazer com que a Copa do Mundo seja aparentemente mais do Brasil e menos da Fifa. O país encontra hoje os mesmos problemas que alemães e sul-africanos enfrentaram nos últimos anos antes de organizarem o evento: uma empáfia da Fifa que mexe com a auto-estima do país anfitrião da Copa.
Talvez o Brasil consiga, com a sorte que vem tendo na conjuntura política mundial, viver um momento único, em que a Fifa tente deixar de ser tão dona da Copa, já que em todo o planeta a sua forma de tomar conta do futebol já não é tão bem apreciada.
A oportunidade de o Brasil ser “a bola da vez” para mudar a cara da Copa do Mundo é agora. Só não poderia tentar fazer isso colocando Pelé como embaixador do evento. O Rei do Futebol é, sem dúvida, a personificação do que há de mais precioso dentro de campo. Fora dele, porém, é preciso achar uma nova cara.
O melhor embaixador da Copa no Brasil deveria ser o brasileiro. Sem os vícios do futebol.

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