segunda-feira, 13 de junho de 2011

Nascemos para superar o nosso melhor


Quando falamos de superação, costuma vir à nossa mente cenas dramáticas, trágicas, falências, acidentes, e o nascimento de heróis que transcendem àquilo que a maioria não conseguiria. Essa não é a superação virtuosa. Essa é, simplesmente, a superação obrigatória, pois ao sermos expostos a uma situação do tipo “point of no return”, ou enfrentamos, ou nos resignamos e perecemos.
A superação espetacular  é aquela onde nos acostumamos a superar o nosso melhor. Isso quer dizer: um artista que se aprimora a cada dia que passa; um profissional que antecipa o estado da arte na sua área e se supera na aplicação da técnica; um ser humano rico e famoso que não se isola do mundo e passa a viver de alucinações extra terrestres, e – ao contrário, fica a cada dia que passa mais generoso e acessível; um homem e uma mulher que evoluem juntos e obtem a capacidade de aprenderem a se amar de forma cada vez mais profunda e abrangente.
Nascemos para superar o nosso melhor, e isso pode ser instalado dentro de nós através de um rombo na nossa vida, onde iremos aprender o método da evolução a partir de uma perda. Vamos aprender o que a célula já sabe fazer, a recombinação criadora. Mas o grande segredo é aprender a usar essa mesma força poderosa não mais sob o peso de uma necessidade, das inevitáveis encruzilhadas da vida, e sim a partir do poder da vontade consciente, do crescimento superante de uma vocação, dos talentos, dos ângulos superiores da dignidade humana.
Quem inventou a anestesia foi um dentista. É o que a história revela. William Morton um compassivo dentista que, para acabar com o martírio dos pacientes descobriu as propriedades anestésicas do éter na alquimia do longínquo Paracelso. A superação superior parte das certezas de que tudo já existe e somos tomados por uma volúpia de consistências que são transformadas em trilhas para a descoberta de novas realidades. A felicidade, segundo Bertrand Russel, só pode ser obtida por quem a coloca acima de si mesmo. Esse poder oferece um sentido , um significado e um motivo que auto inspira a recriação da própria vida na mesma pessoa,  repetida e muitas vezes. As pedras que contam as histórias nos sítios arqueológicos são duras para permanecer por séculos. Seres humanos são frágeis e voláteis, mais leves do que o éter de Paracelso. Se pensarmos como pedras seremos o lumpen das ilusões, se raciocinarmos como finitos, gasosos,  passageiros e criativos, poderemos vir a ser cantos de cisnes,  liberando a alma para o vôo dos invencíveis e aí sim -  mais eternos e reais do que as pedras mudas e frias.
Toda superação exige mudança, transformação. Ao superarmos jamais seremos os mesmos de antes, passamos a incorporar novos papéis na vida. Um profissional que, após 30 anos de profissão sente a necessidade de criar um novo negócio, uma nova forma de carreira profissional, por exemplo, não o fará com os mesmos talentos anteriores. O seu melhor, a essência do seu conhecimento, relacionamento e obras sim, falam e continuarão a falar por ele e com ele. Mas, para o novo empreender será necessário gostar de coisas novas, se relacionar com pessoas novas, conviver em ambientes novos, retroceder ao aprendizado de fundamentos,  precisará incorporar muitos “ outros “ dentro de si. E isso é exatamente o que ocorre quando precisamos superar sob um trauma ou uma tragédia na vida. Precisamos chamar de volta a nossa criança interior, aprender processos novos, fazer novas amizades, estudar tecnologias novas e criar novos papéis para poder viver e construir dignidade e auto estima interiores.
Nascemos para superar o nosso melhor. O primeiro passo é descobrir nossa vocação, nosso talento nato. Em seguida vai o aprimoramento profundo desses dons. Logo depois, saímos desse “ ovo “ da pequena consciência, e adentramos novos níveis ultrapassando o limiar de cada estágio superante. Entramos então na consciência da generosidade, onde iremos dar mais do que recebemos, e com prazer. No auge da maturidade, a superação não irá nunca sossegar, virá a busca da missão da alma, aquele código secreto que nos foi impresso ao nascer, e continuaremos na jornada superante, agora cada vez mais humana , carinhosa sem perder a vigilância , e sabendo sair para o desapego das cargas e dos pesos que não poderemos carregar , nos próximos vôos das vidas a serem vividas.
Supere, pegue para fazer com o que tiver aqui, agora e já;  e conecte tudo o que voce faz com significados , sentidos e missões ; e com a sua criança interior que permanece viva e presente em todos os instantes da vida.
Jose Luiz Tejon Megido
Prof Pós Graduação da FGV, e da ESPM; autor de 27 livros, Palestrante, Mentor e Consultor

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