sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Fiel ou cliente? (Alexandre Pelegi)

 O que buscamos nas igrejas, nos rituais religiosos, naquilo que imaginamos ser um encontro com o divino? O que procuramos por trás de altares imponentes, imagens sacras, oratórias eloqüentes e histriônicas?

As religiões hoje têm mais clientes do que fiéis. Está desempregado? Depressivo? A mulher o abandonou, o filho adoeceu, o patrão o preteriu? O dinheiro encurtou, o salário acabou, as contas cresceram, os juros bancários o afogaram? Que tal um milagre?
Fé, o grande produto do milênio... Um verdadeiro mercado de seitas se abre como um imenso shopping center de oportunidades. Basta ligar a TV e o rádio a qualquer hora do dia ou da noite, ou prestar atenção aos cartazes e faixas espalhados em qualquer cidade, para perceber da extensão da oferta religiosa. Seriam os mesmos “vendilhões do templo” de séculos atrás?
Viro meus olhos noutra direção e percebo a existência de uma enorme e sôfrega massa consumidora. Todos à espera de milagres, cada qual a seu modo. A velha economia nos ensina: a profusão de ofertas só existe por obra e graça da Santa Demanda...
Estamos sempre apostando num socorro que virá de algo além de nós, fora de nós, e muitas vezes muito maior do que nós e nosso humano entendimento. E agimos como clientes quando esquecemos que somos parte de algo maior. A maneira como boa parte da humanidade lida com as religiões é parte de um fenômeno recorrente: o homem procura socorro quando não consegue mais se ver no espelho de sua própria alma, e repele a visão frontal de suas deficiências e misérias. Quando seus desencantos são maiores que sua esperança, o homem se aparta de sua identidade.
Agimos como clientes, não sabemos ser fiéis. Pagamos o que achamos ser o preço justo pela entrega daquilo que imaginamos ser nossa fé, e em retribuição queremos um adiantamento cá na Terra de nossa parcela no céu.
Somos clientes, não agimos como cidadãos. Egoístas, imaginamos que o melhor para cada um de nós independe do que poderia ser o melhor para todos. No mercado da fé, cliente vira otário. Para esses há pouca chance de salvação

A maneira como boa parte da humanidade lida com as religiões é parte de um fenômeno recorrente: o homem procura socorro quando não consegue mais se ver no espelho de sua própria alma


Copiado de http://www.primeiroprograma.com.br/

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