sexta-feira, 10 de julho de 2009

Uma brasileira que serve de exemplo (Alexandre Pelegi)

Em março de 2003, quando participava de nosso programa de rádio, o saudoso professor e ambientalista Samuel Murgel Branco fez, numa de suas crônicas, uma singela homenagem à pesquisadora Johanna Döbereiner.

Ele contou que em 1963, quando a recém criada Comissão Nacional da Soja iniciara as discussões técnicas para definir quais deveriam ser os melhoramentos para garantir sucesso ao cultivo no país, o caminho mais natural parecia ser o do enriquecimento dos solos com auxílio de fertilizantes nitrogenados, solução de custo muito elevado. Foi quando se ouviu a voz discordante da agrônoma e pesquisadora Johanna Döbereiner que, desde 1953, estudava os processos de fixação biológica do nitrogênio por bactérias associadas aos vegetais. O caminho brasileiro deveria ser o da biotecnologia, através do qual ela propunha introduzir nos cultivos de soja bactérias capazes de retirar nitrogênio do ar, ao invés de adicioná-lo ao solo...

A proposta da jovem cientista, sustentada pelos resultados inquestionáveis de suas pesquisas, acabou aceita. O resultado é impressionante: em alguns anos o Brasil tornou-se o segundo maior produtor mundial de soja, com uma economia de fertilizantes que atinge a impressionante cifra de 2 bilhões de dólares por ano...

Os estudos de Johanna foram ainda a chave para a criação do PROALCOOL, para o qual contribuiu de forma decisiva com suas pesquisas. Num momento em que o biocombustível é utilizado pelo presidente brasileiro como cartão de visita no cenário internacional, é imperioso lembrar que por trás de formidáveis resultados econômicos existiu sempre, e sempre existirá, a mão invisível e o trabalho incansável do cientista.

Johanna Döbereiner, apesar de não ter nascido aqui, fez pelo Brasil muito mais do que muito político falastrão. Quando uma repórter quis dar a entender que ela não seria brasileira, ela respondeu sem titubear: "Minha filha, talvez eu seja mais do que você..."

Hoje, diante dos resultados espantosos da produção da soja brasileira, e do sucesso ambiental e econômico do biocombustível, fica mais claro ainda que Johanna Döbereiner, além de brasileira, tornou-se exemplo inestimável a ser contado em prosa e verso para todos os cidadãos deste país.

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