sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sonho e glamour (alexandre pelegi)

Frei Betto, que além de amigo de Lula foi seu assessor especial na Presidência da República, inconformado com a saída da ministra do meio ambiente Marina Silva, escreveu há um ano no jornal Folha de São Paulo: "Não te merece um governo que se cerca de latifundiários e cúmplices do massacre de ianomâmis". Palavras duras, ainda mais partindo de um homem que militou por décadas no Partido dos Trabalhadores.
O que cabe destacar é que o “Lula lá no governo” é muito diferente do “Lula cá no PT”. Só se assustam os puros de espírito, aqueles que não conseguem – ou não aceitam – o duro jogo do poder.
A experiência petista ao menos carrega o mérito de demonstrar sem retoques que no Brasil programa de partido não guarda qualquer semelhança com exercício de governo. Mostra a alguns poucos milhões de brasileiros, que ainda conseguem entender o que lêem nos jornais, que a política possível é diametralmente oposta à política sonhada.
Dito isso, cabe o reparo: existirá um limite para concessões no exercício da política? A melhor forma de se avaliar o caráter de um político é a maneira como ele conduz os negócios do poder. Isso pode ser facilmente verificado pelas alianças que ele articula, pelos aliados que despreza e alija, pelas prioridades que determina para a ação executiva, pelas bandeiras que joga ao lixo... É nessa prática que se verifica até que ponto as concessões afastam o político do sonho, enquanto o aproximam perigosamente da mesmice.
Para a grande maioria da nação, no entanto, a política só é sentida por seus efeitos imediatos. O poder de consumo, a oferta de empregos, obras visíveis e impactantes, tudo isso colabora para se forjar a imagem de um político popular. Popular, mas nem sempre coerente... Coerência é marca de estadista, pois mostra sua honestidade de propósitos. Mostra mais, mostra seu caráter. Pessoas coerentes não fazem concessões de princípios. Nem trocam o desafio da história pela popularidade de um mandato...

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