quinta-feira, 28 de maio de 2009

Memória e ficção

(por Alexandre Pelegi)
Sou do tempo da memória oral...
Os fatos que vi, as maravilhas que presenciei, a maioria está gravada em minha memória. Ao contrário dos HD’s, as lembranças humanas possuem filtros. Ou talvez fosse melhor chamar de "releituras"?
Junte duas pessoas que viveram um mesmo evento – cada qual contará uma história diferente. Como não há registro, VT, filme, fotografia que seja, o jeito é escolher a versão mais verossímil e assumi-la como verdade. É o que sente a maioria dos que viveram os anos 60. Não havia video-clip, internet, TV a cabo. O que recebíamos era o que era possível vislumbrar. Vivíamos de imaginação. Futebol só por rádio, shows só ao vivo...
O que ficou passa pelo filtro da memória. Sem registro – e o Brasil é expert em dizimar sua história – vivemos de lembranças. O programa Divino Maravilhoso? Só de memória... O Show Opinião? Só quem assistiu pra contar... Dribles do Pelé e Garrincha? Os mais incríveis são apenas contados por quem jura ter estado lá...
Os escritores bem que se esforçam para recontar a história, mas a maioria resvala para o terreno da ficção. Resta, então, a dúvida cruel: vivemos tempos melhores ou nos deixamos enganar pela memória seletiva?
Pois é, a turma de hoje em dia não tem esta desculpa. É só jogar no Google que se tem qualquer informação do momento. É fantástico, mas, cá prá nós, meio sem graça. Lembrar é bem melhor que rever. A lembrança nos faz olhar para dentro de nós mesmos...

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