quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Do Primeiro Programa

Castigo resolve?

(por Alexandre Pelegi)
Em 1960 Celly Campelo explodia nas paradas com a música “Banho de Lua” (clique aqui pra ouvir). Os versos iniciais descreviam a relação dos jovens da época com a autoridade materna: “Fui à praia me bronzear, me queimei, escureci... Mamãe bronqueou, nada de sol, hoje só quero a luz do luar”.
Impensável imaginar esta cena hoje. Mães já não mandam como antes, e os castigos não causam medo, nem respeito. Castigo tornou-se palavra em desuso, quando não virou palavrão no seio familiar. Falar em castigo leva alguns pais a pensar de saída em punição física, na famigerada palmatória, nas sonoras palmadas, nas potentes chineladas. Afinal, quem da minha geração não sofreu na infância, ao menos uma vez, um castigo executado por um desses meios de imposição da vontade superior?
A filha de um amigo, aos 12 anos, vivia a afrontar a autoridade da professora em classe. Ele recebeu a incumbência de conversar com a garota. Ela reconheceu que agira errado, mas lhe disse algo sugestivo: “- Puxa, pai, sua geração derrubou tudo que tinha pra ser derrubado. Não sobrou nada pra gente!”. Era a jovem rebelde sem causa demonstrando um conhecimento profundo dos erros que expressiva parte de minha geração cometeu ao trocar o horror da punição, ao som de “É proibido proibir”, pela liberação total do “conversando que a gente se entende”...
Deu errado. Se nossos pais não sabiam o ponto exato em que deveria se situar o castigo físico – quando deixava de ser punição para se transformar em descarga da raiva e da impaciência –, a maioria deles conseguiu se situar próximo à média. Havia, sim, pais que só sabiam castigar com o uso do chicote, mas havia outros – a minoria – que sabia punir apenas com a supressão de alguns prazeres que tão bem nos faziam. Dentre estes, alguns agiam com a crueldade e o requinte de um sádico: – “nada de cinema neste fim de semana”; “esqueça o baile de debutantes”; “pode guardar a fantasia, meu bem, que carnaval só no ano que vem...”
Por tudo isso eu sempre preferi a chinelada, ou a cinta no lombo. Uma vez castigado, a pena estava cumprida, e eu já podia sair em liberdade. Condicional, mas em liberdade! Bons tempos aqueles em que a gente preferia a chinelada no traseiro em lugar de ser impedido de se juntar aos amigos...
Não importa as formas de castigo, o que ficou pra mim e muitos de meus amigos de infância é que nós éramos amados. Castigo resolve? Se houver amor, sem dúvida!

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